Que tempo é esse?

   Dizem por aí, que o tempo é algo inerente ao ser humano, que todos nós somos capazes de reconhecer e ordenar a ocorrência dos eventos percebidos pelos nossos sentidos. Entretanto, a ciência de vez em quando nos diz que nossas percepções e sensações não são exatamente o que pensamos ser. E o tempo, como sentimos, é na verdade evidenciado via processos psicossomáticos, onde variadas variáveis, muitas com origem puramente psicológica, tomam parte. E assim, como certamente já devem ter percebido, todas as pessoas presenciaram em algum momento uma ilusão de ótica. Percebemos que alguns eventos transcorreram de forma muito rápida, e outros transcorreram de forma bem lenta, mesmo que o relógio diga o contrário.
   
   A noção humana de tempo encontra-se ligada de forma íntima às percepções fornecidas pelos sentidos - com destaque certamente para o sentido da visão - o que faz com que a noção humana de tempo encontre-se diretamente influenciada pela luz e suas propriedades. Nessa linha de raciocínio, considerado que a luz, ao propagar-se livremente, não se "esgota" - dado que conseguimos enxergar estrelas cuja luz viajou por mais de 10.000 (dez mil) anos-luz de distância - se algum corpo metafísico realizasse uma viagem a mais de 300.000 km/s - a rigor, 299 792 458 metros por segundo, atual velocidade da luz - este estaria a contemplar uma viagem no tempo: enxergaria seu passado e não mais teria a percepção de tempo normal. Esse argumento também é válido com dispositivos de filmagem, fotos e câmeras: eles nada mais fazem do que impressionar matéria física de maneira a reter a luz dos acontecimentos, e também podem ser consideradas "viagens no tempo". 
   
   Quando o pensamento grego decidiu que o humano diferenciava dos outros animais por possuírem razão, e portanto não podiam participar do mesmo mundo que os outros animais. O humano deixou de ser espécie para ser demiurgo, passando a classificar a natureza para depois explorá-la. As formas de classificar o tempo como conhecemos hoje, através de calendários e relógios, foi essencial para o desenvolvimento da ciência. A classificação linear do tempo, deu origem à nossa noção de passado, presente e futuro, além das noções de primitivo, bárbaro e civilizado. 

   Os gregos antigos tinham duas palavras para o tempo: chronos e kairós. Enquanto o primeiro refere-se ao tempo cronológico (ou sequencial) que pode ser medido, esse último significa "o momento certo" ou "oportuno": um momento indeterminado no tempo em que algo especial acontece. Em teologia descreve a forma qualitativa do tempo (o "tempo de Deus"), enquanto chronos é de natureza quantitativa (o "tempo dos homens").

   Na Física e noutras ciências, o tempo é considerado uma das poucas quantidades essenciais. O tempo é usado para definir outras quantidades - como a velocidade - e definir o tempo nos termos dessas quantidades iria resultar numa definição redundante. Por influência da teoria da relatividade idealizada pelo Físico Albert Einstein, o tempo vem sendo considerado como uma quarta dimensão do continuum espaço-tempo do Universo, que possui três dimensões espaciais e uma temporal.

   Na meteorologia, o tempo é o estado físico das condições atmosféricas em um determinado momento e local. Em que tempo vivemos? Acreditávamos que vivíamos na escala do tempo geológico do Holoceno, a época do período Quaternário da era Cenozoica do éon Fanerozoico que se iniciou há cerca de 11,5 mil anos e se estenderia até o presente. Época geológica de clima estável onde a espécie humana conseguiu se desenvolver. Que proporcionou o advento da agricultura, domesticação de animais e a sedentarização. 


   Porém, recentemente os cientistas nos alertaram que os impactos das ações antrópicas sob o planeta foi capaz de alterar significantemente a geologia da Terra, vivemos em uma nova época geológica: o Antropoceno. O ser-humano, que pretendia ser exterior à natureza, deixa de ser força biológica para se tornar força geológica, e foi capaz de alterar a paisagem do planeta e comprometer sua própria sobrevivência como espécie e a dos outros seres vivos. 

   Se não temos mais futuro, em que tempo vivemos afinal? Vivemos em um tempo em que nosso comportamento e nosso pensamento se tornou insustentável. Não temos mais tempo algum. A previsão do tempo prevê grandes catástrofes por vir, catástrofes que afetarão primeiramente quem não tem a minima responsabilidade por tal problema.

   Este blogue portanto, tem por finalidade a exposição e discussão sobre a descolonização do pensamento, permitindo reflexões sobre possíveis novas relações do humano com o mundo, da cultura com a natureza e vice-versa. Sendo assim, o pensamento aqui, não possui compromisso com a razão clássica, nem pretende alcançar o cume da verdade absoluta. Por isso, todo escrito pode ser reescrito, toda teoria pode ser contestada.

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